Lia de Itamaracá e Chico Science (in memorian) serão celebrados pela festa, conjugando a cultura recifense e pernambucana em todos os tempos de suas tradições e revoluções musicais mais importantes
Foto: Rodolfo Loepert/Prefeitura do Recife
Abrindo alas para a festa mais aguardada do calendário cultural da cidade da música e de tantas celebrações, a Prefeitura do Recife já tem novidades sobre o Carnaval 2024. Foram escolhidos os dois homenageados da festa, confirmando que o maior Carnaval de rua do Brasil é feito da tradição e da força histórica das agremiações e brincantes da cultura popular, mas também de inovação e de revolução musical.
Uma das homenagens será feita a Lia de Itamaracá - a artista que é sinônimo de cultura pernambucana no mundo inteiro, confirmando a importância feminina na sustentação e perpetuação das tradições da cultura popular, gestadas e protagonizadas por grandes mestras há muitas gerações. A cirandeira é defensora de uma das mais antigas vocações culturais de Pernambuco, declarada patrimônio imaterial do Brasil pelo Iphan em 2021, feita de dança, música, oralidade, sal e sol.
A festa também renderá homenagem a Chico Science (in memorian), que redesenhou o lugar do Recife no mapa da música mundial, fincando parabólicas no mangue e misturando ciranda, coco e maracatu com rock, tambor com riff de guitarra, Pernambuco com o resto do mundo. O cantor e compositor, que nasceu no Recife e foi morar em Olinda durante a infância, foi também homenageado da última edição do Festival Recifense de Literatura A Letra e a Voz, dentro das celebrações dos 30 anos do Movimento Manguebeat, que ainda reverberam na cidade e não devem silenciar tão cedo.
“Viemos até o Marco Zero para anunciar os dois homenageados do Carnaval do Recife do próximo ano. Será o maior carnaval da história e esse solo em que estamos pisando vai estar lotado de gente. Vamos homenagear Chico Science, em memória, e Lia de Itamaracá, a maior cirandeira que o nosso estado já viu. Ela é uma mulher negra, de atitude, e que completará 80 anos no ano que vem. Chico é o grande ícone do Manguebeat, movimento que completa 30 anos e, por incrível que pareça, ele ainda não tinha sido homenageado no Carnaval do Recife. Eles têm uma história fantástica e algo que une muito os dois: ambos representam nossa cultura popular e foram grandes responsáveis por levar a cultura popular do Recife e de Pernambuco para o mundo inteiro”, declarou o prefeito.
“Nossa cultura é repleta de fontes inspiradoras, que perpetuam legados, que promovem encontros, de gerações e saberes, fazendo-se única e atemporal, de passados, presentes e futuros pulsantes. No próximo carnaval, essa grandeza e esse pertencimento vão estar presentes já nas homenagens. Chico Science e Lia nos representam, projetando o recife no mundo, nos mares e mangues das artes que têm origem, raiz e criação infinitas”, celebra o secretário de Cultura do Recife, Ricardo Mello.
Sobre os homenageados:
Lia de Itamaracá
Literalmente a maior cirandeira do estado, Lia de Itamaracá, que ostenta 1,80 metro de majestade musical, é rainha na beira da maré sempre cheia da cultura popular pernambucana. A “morena queimada do sal e do sol da Ilha de Itamaracá”, como ela própria canta, toda faceira e muito orgulhosa, cresceu nas rodas de ciranda da praia de Jaguaribe, onde nasceu e vive até hoje. Começou a cantar aos 12 anos, entre os seus, e pelejou como pode para defender as tradições que herdou dos antepassados, até cair nas graças do mundo inteiro, há mais de duas décadas. Sagrou-se Patrimônio Vivo de Pernambuco em 2005 e agora, prestes a completar 80 anos, segue embalada pelas pancadas das águas do mar, defendendo a ciranda nos palcos do mundo e ensinando o futuro a mergulhar nas tradições mais profundas do Nordeste, que inauguram o Brasil.
Chico Science (in memorian)
Idealizador e ícone absoluto do movimento Manguebeat, Chico Science liderou a evolução musical que modernizou o passado, tirando da lama o sustento e o esteio cultural de todas as gerações pernambucanas e brasileiras da década de 1990 em diante. Fincando parabólicas no mangue e perfumando com as novidades musicais do mundo as ideias de teóricos nordestinos importantes, como Josué de Castro e os acordes ancestrais do frevo, do coco, do maracatu, da ciranda de Lia e de tantos outros brincantes que resistiam, de mãos dadas, nas rodas da cultura popular junto com ela, o músico nascido no Recife e criado em Olinda convidou o Nordeste a (re)conhecer sua própria identidade cultural para dizer ao mundo inteiro que tradição não rima com revolução por acaso.
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