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Adufepe realiza encontro sobre ações afirmativas e educação antirracista para reforçar luta na Semana da Consciência Negra

A memória cultural distorcida e falsificada pelos discursos hegemônicos não pode mais ser lida como verdade incontestável


Foto: Reprodução

“Enquanto o sofrimento estivesse vivo na memória de todos, quem sabe não procurariam, nem que fosse pela força do desejo, a criação de um novo destino”. As palavras da narradora no romance Ponciá Vicêncio, da linguista, pesquisadora e escritora afro-brasileira Conceição Evaristo, nos despem do agora e nos levam de volta às raízes, onde a subalternização do povo negro começa e, séculos depois, ainda nos mantém reféns. A conscientização urge, é preciso entender e é preciso reconhecer. Decolonizar é palavra de ordem, pois a visão eurocêntrica é pequena demais para a grandiosidade de nossos plurais. Neste contexto, cada um tem uma responsabilidade inadiável para o restabelecimento dos direitos fundamentais e da dignidade humana.

Na Semana da Consciência Negra, a Associação dos Docentes da Universidade Federal de Pernambuco fomenta um debate que necessita ser amplificado. A memória cultural distorcida e falsificada pelos discursos hegemônicos não pode mais ser lida como verdade incontestável. No dia 21 de novembro, a partir das 10h, o Auditório Professor Paulo Rosas, na sede da Adufepe, recebe a mesa redonda Ações afirmativas e educação antirracista.

Imagem: Adufepe/Divulgação

Para o professor Ricardo Oliveira, diretor da Adufepe, essas ações, em particular, a política de cotas, pode ser observada por duas frentes. “No primeiro momento, ela trouxe a questão racial para o centro do debate no país. Antes, ficava apenas no campo filosófico, sem efeitos práticos, e isso resultava na manutenção de privilégios e do racismo estrutural. A política de ações afirmativas mudou esse cenário. A segunda frente é a chegada de pessoas negras a postos antes destinados, quase que exclusivamente, a pessoas brancas. Temos professores universitários, juízes e profissionais do direito, médicos, engenheiros, cientistas, entre outros. Isso tem um papel importantíssimo na mudança social pretendida, pois jovens negros e negras veem que é possível, que são capazes e podem ocupar aquela posição ou qualquer outra que queiram”.

Para dar luz ao debate, a atividade vai reunir a advogada, sanitarista, ativista pelos Direitos Humanos e feminista negra Vera Baroni; a primeira advogada trans das regiões Norte e Nordeste, reconhecida pela Ordem dos Advogados do Brasil, a política e ativista Robeyoncé Lima; a estudante da UFPE e vice-presidenta da União Nacional dos Estudantes em Pernambuco (UNE/PE), Andresa Candida; e o professor do Departamento de Antropologia e Museologia da UFPE, o historiador e escritor Alexandro Silva de Jesus, que coordenou o grupo de pesquisa desAiyê: ferida colonial e dissolução de mundos e conduziu a formação das comissões de heteroidentificação das Universidades Federais de Pernambuco e do Cariri, e do Instituto Federal do Ceará, em Juazeiro do Norte. Ainda haverá apresentação cultural do Afoxé Omô Nilê Ogunjá e um coffee break temático com iguarias de origem afro-brasileira.

“A Adufepe colabora para a Semana da Consciência Negra dando foco às relações de conscientização, de fomento e, principalmente, de engrandecimento dessa causa. Faz parte, hoje, da nossa agenda a promoção dessa consciência para os professores e professoras que fazem a UFPE”, pontuou a presidenta do sindicato, Teresa Lopes.

O professor Ricardo Oliveira convida a todos para participarem lembrando que muito ainda precisa ser feito. “Precisamos ir além. Não basta que pessoas lidas como negras ocupem essas posições. É preciso que elas se enxerguem como negras e atuem como tal na sociedade. E essa é a terceira frente das ações afirmativas, que se materializa no currículo da educação básica. É preciso buscar um letramento racial do país. A formação do cidadão e da cidadã deve fazer esse debate e está fazendo. Eu vejo com muito bons olhos essas duas décadas de ações afirmativas e o que ela traz de perspectivas consigo. Temos um longo caminho pela frente? Temos. Mas, a política de ações afirmativas conseguiu dar concretude ao discurso e começou a mudar a cara desse país”, concluiu.

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