Apesar de sua alta incidência, a doença é uma das mais preveníveis devido à vacina contra o HPV
Imagem: Divulgação
No Brasil, sem levar em consideração os tumores de pele não melanoma, o câncer de colo de útero é o terceiro tipo de câncer que mais ocorre entre as mulheres. Projeções apontam que, até 2025, serão 17.010 novos casos, o que representa uma taxa bruta de incidência de 15,38 diagnósticos a cada 100 mil mulheres, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca). Em Pernambuco, a estimativa é que esse tipo de neoplasia tenha gerado 770 ocorrências, em 2023. A principal causa para o desenvolvimento da doença é a infecção pelo Papilomavírus Humano (HPV). Especialistas defendem que 90% dos casos de tumores de colo do útero estão associados a esse vírus.
Vacina
De acordo com Silvia Fontan, oncologista da Multihemo Oncoclínicas, o câncer de colo de útero é um dos mais preveníveis, já que existe imunização para o seu principal causador, o vírus HPV. O índice de proteção da vacina quadrivalente, oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS), é de 70% para os casos de tumores no colo do útero. A cobertura é ainda maior com a nova vacina nonavalente, mais moderna e, atualmente, disponível apenas na rede privada.
No caso da vacina quadrivalente, a procura ainda é insuficiente no Brasil, cuja meta de adesão é de 90% para meninas entre nove e 14 anos. No entanto, dados de 2023 do Ministério da Saúde revelam que a cobertura é de 76,3% para a primeira dose e de 57,7% para a segunda. No caso dos meninos, o número é ainda menor, com 42,2% para a primeira dose e 27,4% para a segunda. Além disso, vale ressaltar que há queda no número de vacinações. Em 2019, 87,08% das meninas receberam a primeira dose, mas em 2022, esse número caiu para 75,81%.
Em Pernambuco, segundo dados da Secretaria de Saúde do Governo do Estado, a adesão das meninas é de 80% ao programa de vacinação do HPV, atualmente. No período de 2021 a 2023, foram administradas as seguintes quantidades de doses: 157.389 em 2021, 159.879 em 2022 e 252.927 doses em 2023.
“A vacina contra o HPV pode ser aplicada em homens e mulheres dos 9 aos 45 anos. Ela protege não apenas contra o câncer, mas também evita a transmissão contínua do vírus. O Instituto Butantan já comprovou que crianças e adolescentes vacinados produzem quantidades maiores de anticorpos que os adultos e, por isso, é interessante que a vacinação seja estimulada na faixa etária dos 9 a 14 anos”, explica Silvia Fontan.
Tipos e prevenção
O câncer do colo do útero – ou câncer cervical – se refere à multiplicação desordenada de células do epitélio de revestimento do órgão que compromete o tecido subjacente (o estroma), podendo invadir células e órgãos próximos ou distantes. Os tipos mais frequentes são o Carcinoma epidermóide, que acomete o epitélio escamoso e é o tipo mais incidente, correspondendo a cerca de 80% a 90% dos casos; e o Adenocarcinoma, que ocorre no epitélio glandular e é mais raro (entre 10% a 20%).
Com desenvolvimento lento e silencioso na fase inicial, a evolução da doença pode apresentar sintomas como sangramento vaginal intermitente (que vai e volta) ou após a relação sexual, secreção vaginal anormal e dor abdominal associada a queixas urinárias. Em casos mais avançados, pode surgir alteração do hábito intestinal. O diagnóstico é realizado por exame citopatológico, mais conhecido como teste de Papanicolau, um exame rápido e geralmente indolor, que possibilita detectar o tumor no início. O tratamento consiste em cirurgia, quimioterapia e radioterapia, dependendo do estadiamento.
Efeitos psicológicos e atividade sexual
Além dos danos físicos trazidos pelo câncer de colo do útero, os fatores psicológicos e o impacto nas relações são as principais dificuldades relatadas pelas mulheres que enfrentam a doença, gerando angústia e comprovando a necessidade de assistência profissional psicológica. Muitas pacientes podem apresentar desinteresse sexual após o diagnóstico e durante o tratamento, alteração na imagem corporal e sensação de incapacidade.
Silvia Fontan explica que as altas doses de radiação na área podem causar estreitamento da vagina, conhecida como estenose vaginal, causando desconforto durante o sexo. “Geralmente é recomendada a dilatação vaginal regular para diminuir esses efeitos e prevenir a formação de tecido cicatricial. Além disso, estudo austríaco publicado, em 2023, na Reunião Anual da American Society for Radiation Oncology (ASTRO) constatou que as pacientes que optaram pela dilatação vaginal e mantiveram a atividade sexual tiveram o menor risco de desenvolver estenose”, orienta.
Por isso, a profissional alerta para a importância de um tratamento mais abrangente e humano para essas pacientes. “É um momento de muita vulnerabilidade emocional, por isso as relações de afeto com família e cônjuges precisam estar fortalecidas e a comunicação deve ser clara para que as mudanças na rotina que precisam ser feitas não sejam um motivo de culpa para essa mulher”, acrescenta.
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