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Nada novo sob o sol, porém muito a construir

8 de Março expõe a realidade cruel das mulheres no Brasil

Foto: Reprodução

“Somos maioria da população, a maior parte dos lares brasileiros são chefiados por nós, mulheres, mas seguimos sub-representadas nos espaços políticos e de poder. E isso se torna ainda pior para nós, negras”, desabafa a  Vereadora da cidade do Recife, Elaine Cristina (PSOL).  Das/os 39 parlamentares eleitas/os para o período de 2021-2024, apenas sete são mulheres e Elaine é a única parlamentar negra da Casa José Mariano.

Modificar a estrutura legal e investir num modelo de educação onde as mulheres, independente de raça/etnia, religião, situação socioeconômica e orientação sexual possam ter a oportunidade de disputar esses espaços são caminhos apontados pela Vereadora para oportunizar a equidade no poder. “Precisamos mudar essas estruturas e permitir que as mulheres escolham estar onde elas querem, seja numa carreira, na política ou na família. Enquanto essa questão não for tratada com a seriedade e urgência que precisa continuaremos sendo muitas, seguiremos produzindo, mas sendo invisibilizadas e mortas”, alerta.

Uma das estratégias adotadas pela “Mandata” de Elaine Cristina para dar visibilidade às mulheres negras é a realização de Reuniões Solenes em homenagens às mulheres negras referência na luta pela garantia de direitos e pela valorização da população negra no município. Em apenas um ano de atuação, a vereadora, que também preside a Comissão de Igualdade Racial e Enfrentamento ao Racismo na Câmara Municipal, além de requerimentos e projetos voltados ao reconhecimento e bem-estar dessa parcela da população, já homenageou mais de 20 mulheres ativistas e cientistas negras. “É uma forma de abrir a “Casa do Povo” para essas mulheres que fazem da vida um ato de resistência”, explica.

Violências

O relatório Elas Vivem: liberdade de ser e viver, da Rede de Observatórios da Segurança, que monitora oito estados (Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo) confirma o alerta da vereadora. A pesquisa publicada ontem (7) aponta que a cada 24 horas, ao menos oito mulheres são vítimas de algum tipo de violência como ameaças, agressões, torturas, ofensas, assédio e feminicídio. Como sujeitos os parceiros ou ex-parceiros (72,7%) que alegam a não aceitação do término do relacionamento, seguida de ciúmes, sentimento de posse e machismo. Crimes cometidos com armas brancas (em 38,12% dos casos) ou por armas de fogo (23,75%).  

Ao mesmo tempo em que são atualizados os dados sobre as violências físicas (nada novidades para as mulheres), outra pesquisa informa que se fossem executadas políticas afirmativas de garantia para mulheres nos espaços de trabalho, a economia global mudaria. Segundo a economista-chefe do Grupo Banco Mundial e vice-presidente sênior de Economia do Desenvolvimento,  Indermit Gill, “as mulheres têm o poder de turbinar a debilitada economia global”.

Segundo ela, as leis e práticas discriminatórias impedem as mulheres de trabalhar ou abrir empresas diferentemente dos homens. “A eliminação dessa disparidade poderia aumentar o produto interno bruto global em mais de 20%, o que, em essência, duplicaria a taxa de crescimento global durante a próxima década”, afirma.

Outro recente estudo realizado pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) constatou que, no 4º trimestre de 2023, as mulheres representavam a maioria das pessoas desocupadas (54,3%); 35,5% delas eram negras e 18,9%, não negras. Ou seja, havia 2,865 milhões de mulheres negras desocupadas, o

que correspondia a uma taxa de desocupação de 11,1%, enquanto as não negras desocupadas totalizaram 1,526 milhão, o equivalente a 7,0% de desocupação.

É assustador que todo ano o 8 de março registre situações desfavoráveis a vida das mulheres. Quase que obrigatoriamente são informados de dados ligados às violências, ao desamparo e não efetivação de políticas e serviços públicos que garantam o bem-estar e a dignidade para elas.

Em pleno século XXI, a data segue revelando os silenciamentos e as invisibilidades delas. Violações que se apresentam quer sejam sobre a luta por igualdade salarial, a solidão no não compartilhamento dos cuidados com as/os filhas/os e o lar,  a invisibilização do trabalho produtivo e reprodutivo ou sobre os impedimentos e obstáculos à presença delas no poder.

Até quando??

Até quando as mulheres terão que marchar no dia 8 de março por respeito, reconhecimento e pela garantia de suas vidas??

Links:

Dieese: https://www.dieese.org.br/

Rede de Observatório da Segurança: http://observatorioseguranca.com.br/

Pesquisa Mulheres, Empresas e o Direito: https://wbl.worldbank.org/en/wbl

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